segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A REVOLUÇÃO É UMA ESTETYKA - Glauber Rocha

A REVOLUÇÃO É UMA ESTETYKA

A única opção do intelectual do mundo subdesenvolvido entre ser um "esteta do absurdo" ou um "nacionalista romântico" é a cultura revolucionaria. Como poderá o intelectual do mundo subdesenvolvido superar suas alienações e contradições e atingir uma lucidez revolucionária? Através do exame crítico de uma produção reflexiva sobre dois temas justapostos:

– O subdesenvolvimento e sua cultura primitiva

– O desenvolvimento e a influência colonial de uma cultura sobre o mundo subdesenvolvido.

Os valores da cultura monárquica e burguesa do mundo desenvolvido devem ser criticados em seu próprio contexto e em seguida transportar em instrumentos de aplicação úteis à compreensão do subdesenvolvimento.
A cultura colonial informa o colonizado sobre sua própria condição.
O auto-conhecimento total deve provocar em seguida uma atitude anti-colonial, isto é, negação da cultura colonial e do elemento inconsciente da cultura nacional, erradamente considerados valores pela tradição nacionalista. Deste violento processo dialético da informação, análise e negação, surgirão duas formas concretas de uma cultura revolucionária:

a didática/épica
a épica/didática

A didática e a épica devem funcionar simultaneamente no processo
revolucionário:

A didática: alfabetizar, informar, educar, conscientizar as massas ignorantes,
as classes médias alienadas
A épica: provocar o estimulo revolucionário.

A didática será científica.
A épica será pratica poética, que terá de ser revolucionária do ponto de vista estético para que projete revolucionariamente seu objetivo ético. Demonstrará a realidade subdesenvolvida, dominada pelo Complexo de impotência intelectual, pela admiração inconsciente de cultura colonial, a sua própria possibilidade de superar, pela prática revolucionária, a esterilidade criativa.
A épica, precedendo e se processando revolucionariamente, estabelece a
revolução como cultura natural.
Arte passa a ser, pois, revolução.
Neste instante, a cultura passa a ser norma, no instante em que a revolução é
uma nova prática no mundo intelectualizado.
A didática sem a épica gera a informação estéril e degenera em consciência
passiva nas massas e em boa consciência nos intelectuais.
É inofensiva.
A épica sem didática gera o romantismo moralista e degenera em demagogia
histérica.
É totalitária.
A nova cultura revolucionária, revolução em si no momento em que criar é revolucionar, em que criar é agir tanto no campo da arte quanto no campo político e militar é o resultado de uma revolução cultural-histórica concretizando-se, no mesmo complexo, História e Cultura.
O objetivo infinito da liberação revolucionária é proporcionar ao homem uma capacidade cada vez maior de produzir seus materiais e utilizá-los segundo um profundo desenvolvimento mental.
A revolução elevará a sociedade subdesenvolvida à categoria desenvolvida e aí surgirá uma nova necessidade: a ação desmitificadora dos nacionalismos culturais, a ação civilizadora contra mitos e tradições conservadoras; a ação substituta de valores integrais da colaboração humana, a que se limita pelas remanescências do falho significado burguês da individualidade.
O sentimento de colaboração humana renova e revela uma nova categoria de individuo, mas é necessário para isto que a velha cultura seja revolucionária. Neste estágio, a épica didática necessita do instrumental científico psico-analítico a fim de fazer de cada homem um criador que, de posse consciente e informada de todos seus instrumentos mentais, possa fazer a revolução das massas criadoras.

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